Tuesday, June 27, 2006

A Estupidez Humana

Decisões mal tomadas por governantes, familiares, amigos, enfim, pessoas em geral, me deixam estupefato. A tendência é achar que a pessoa foi mal intencionada, displicente ou qualquer outro motivo. Sempre procuro a causa, não acho possível na maior parte das vezes tamanha, digamos, defecada sem algo por trás. Mas isso na maior parte das vezes é devido a estupidez.

Lendo um artigo de J. R. Duran para a revista Trip --"Aprenda a reconhecer um estúpido assim que ele aparecer na sua frente e saiba por que eles são tantos"--, cheguei ao ensaio As Leis Básicas da Estupidez Humana de 1988, escrito por Carlo M. Cipolla, professor emérito de Historia Econômica em Berkeley.

Cipolla enumerou as cinco leis da estupidez e utilizou em sua teoria um recurso gráfico onde demonstra que os seres humanos são uma combinação de quatro tipos:

O Infeliz (ou desesperado): alguém cujas ações geram prejuízo próprio, mas que também criam vantagens para outros.

O Inteligente: alguém cujas ações geram vantagens, igualmente para si e para os outros.

O Bandido: alguém cujas ações geram vantagens para si, ao mesmo tempo que causam danos a outros.

O Estúpido: que é definido na sua terceira Lei.Na análise intitulada O Poder da Estupidez de Giancarlo Livraghi você terá acesso a um estudo mais completo que não vou transcrever aqui, está tudo muito bem demonstrado pelo autor, inclusive os gráficos de Cipolla -- o link esta no final do texto. Vou me deter nas leis.

As Cinco Leis da Estupidez, segundo Carlo Cipolla, são as seguintes:

Primeira Lei: Sempre subestimamos o número de pessoas estúpidas.
Por mais pessimista em relação ao assunto --e eu me incluo nesse grupo-- você nunca acerta a quantidade de pessoas estúpidas existentes a sua volta. Mesmo as que você considera hoje, inteligentes podem cometer atos estúpidos e a partir daí inverte-se a situação. O sujeito passa a ser estúpido sem dúvidas. Nunca estive confortável com tal sensação, mas a realidade é essa; em todos os níveis humanos a estuidez é abundante.

Segunda Lei: A probabilidade de que uma pessoa seja estúpida é independente de qualquer outra característica de sua personalidade.
A lei demonstra que a estupidez independe de etnia, educação, profissão ou o que seja. É outra lei fácil de ser provada na prática, quantos professores doutores você já teve que são tão ou mais estupidos que a sua faxineira? Eu tive vários -- a maioria, é claro. Não se mede estupidez por título ou classe social, a estupidez é um patrimônio que não escolhe vítimas por currículo.

Terceira Lei (a de Ouro): Uma pessoa estúpida é alguém que ocasiona dano a outra pessoa, ou a um grupo de pessoas, sem conseguir vantagem para si, ou mesmo com prejuízo próprio.
Essa é a definição de um estúpido por Cipolla. Concordo com ela, pois o estúpido não é um mal intencionado --o bandido na teoria de Cipolla-- ele apenas age dentro de sua limitação ocasionando danos a terceiros, sem levar vantagem nenhuma. É o que o brasileiro gosta de premiar como o "bem intencionado". Ele age estupidamente, mas teve boa intenção. Na verdade ele apenas age estupidamente sem se guiar por nenhum parâmetro de bondade ou geração de vantagem a sua volta. Isso chega a ser algo assustador, pois não há como se salvar da estupidez, ela não é nem sequer notada pelo sujeito que a pratica, é apenas seu modo natural de agir. Isso isenta nossos políticos de culpa? Preocupante...

Quarta Lei: As pessoas não estúpidas sempre subestimam o poder de causar dano das pessoas estúpidas.
Constantemente elas se esquecem que em qualquer momento, e sob qualquer circunstância, associar-se com gente estúpida invariavelmente constitui-se em erro com prejuízo.Esta é para mim a maior causa de decepção com as pessoas. Devido a primeira lei acabamos por nos associar a estúpidos. Sempre sofremos prejuízos e mesmo assim continua-se a repetir o erro, não faz parte da nossa programação mental prever que a estupidez é a causa da maior parte dos danos a nossa volta. Sendo que as chances de a pessoa associada ser estúpida são mais de 80% , isso fatalmente vai ocorrer muitas vezes. Os estragos são os piores possíveis, até você admitir que esta ao lado de um perfeito estúpido já estará ferrado.

Quinta Lei: A pessoa mais perigosa que pode existir é a estúpida.
Uma pessoa estúpida é mais perigosa que um bandido.Ela se explica facilmente se você entendeu as outras quatro leis. O estúpido é imprevisível na sua ação, mas ele vai praticar estupidez. O bandido fará o mal de qualquer forma, se você é inteligente sabe como se defender dele, mas o estúpido dorme com você. Se já é difícil detectá-lo, prever a hora e o tamanho da estupidez é tarefa mais enfadonha ainda.Tudo muito óbvio --se você não for um estúpido, é claro-- mas justamente por esse motivo é tão interessante, e o assunto deveria ser melhor estudado para que não estúpidos tenham mais armas e assim evitar maiores danos na convivência inevitável com esse tipo de gente.

Analisando mais a fundo, essa massa de gente estúpida é que move o mundo. Nossa evolução se deve a eles, pessoas inteligentes só fazem pensar em soluções para que essa maioria não acabe com o mundo tocando fogo em tudo e pulando para cima das chamas. Faz parte do equilíbrio.

Alguns livros e ensaios sobre o assunto:
The Basic Laws of Human Stupidity, de Carlo M. Cipolla;
Short Introduction to the History of Human Stupidity, de Walter B. Pitkin;
The Encyclopaedia of Stupidity, de Matthijs van Boxsel;
Dictionary of Stupidity, de Stephen Bayley;
O Poder da Estupidez, de Giancarlo Livraghi.

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