Tuesday, June 27, 2006

Chico Buarque e sua Cuba

Sou um fã e um apreciador inveterado da obra de Chico Buarque de Hollanda, mas acho que Chico devia ter ficado calado em uma série de entrevistas recentes, onde afirmou que:

“Tenho amigos, hoje, um pouco distantes. É essa a minha relação com Cuba. Existe, é claro, para a minha geração, um outro tipo de relação, afetiva, que vem da revolução cubana. Nos anos 60, aquilo era muito forte para nós. Um exemplo de resistência. Ainda hoje o ditador Fidel Castro, como gostam de dizer os jornais, inclusive a Folha... Ele é o único adversário dos Estados Unidos na América Latina que resistiu a golpes de Estado e assassinatos e está ali. Todos os outros foram depostos ou assassinados. Ele sobreviveu a vários atentados. Manteve e mantém até hoje uma posição altiva. E isso é algo que ninguém deve ignorar e que eu admiro. Quanto a fuzilamentos ou a prisão de dissidentes políticos, fico contrariado, porque não gosto e não concordo com isso. A questão toda é muito delicada. Eu gostaria que Cuba fosse um país democrático. Agora, eu gostaria de uma maneira, e o Bush gostaria de outra. Cuba poderia ser hoje o Haiti. Cuba não é. É claro que me desagrada a idéia de um partido único, de liberdades vigiadas, mas existe ao mesmo tempo a necessidade de um controle para manter os valores da revolução, que a meu ver são louváveis.” Folha de São Paulo - 26/12/04

Depois de ler essa célebre parte da entrevista, fiquei-me a perguntar: como alguém pode ter alguma relação afetiva com Cuba? Como alguém pode acreditar que Fidel Castro -- o velho capenga e desmiolado -- pode ser inimigo número um dos Estados Unidos? Como alguém pode nutrir afeto por um regime tirano que escraviza e condena à pobreza sua própria população?

Parece piada, mas não é. Chico Buarque, por onde passa, sai destilando essas tolices. Para ele, um país economicamente insignificante, insuficiente, pobre e miserável, é uma forte contraposição a maior potencia econômica do mundo.

O mais lamentável, é vê-lo pôr à violação aos direito humanos como um mero detalhe. Manter os “valores da revolução” em cima da morte de milhares inocentes, que, simplesmente, se contrapuseram ao regime, para ele, “é louvável”. Mas como eu não sou tolo a ponto de achar bonita uma atrocidade como essa, contrariamente ao Chico Buarque, ao invés de ficar tocando cavaquinho, eu trago-lhes o resultado da revolução:

“Fuzilados: 5.621. Assassinados extrajudicialmente: 1.163. Presos políticos mortos no cárcere por maus-tratos, falta de assistência médica ou causas naturais: 1.081. Guerrilheiros anticastristas mortos em combate: 1.258. Soldados cubanos mortos em missões no exterior: 14.160. Mortos ou desaparecidos em tentativas de fuga do país: 77.824. Civis mortos em ataques químicos em Mavinga, Angola: 5.000. Guerrilheiros da Unita mortos em combate contra tropas cubanas: 9.380. Total: 115.127” - Cuba em Números.(Belos valores, não?)

Chico Buarque é uma pérola; um ícone para o Brasil. Respeitado tanto na música quanto na literatura -- ou em qualquer coisa que ele queira se meter. Ao lado dele, existe outro “cabeça-chata”: Caetano Veloso. Seja na ciência, na física, na química, nos estudos epistemológicos, na medicina, na agropecuária, na política ou na economia, você sempre se deparará com 50 ou 100 opiniões desses dois – opiniões idiotas, é lógico.

O eterno garoto dos olhos verdes, fala manso, não tem inimigos, é cativante, é um sujeito que agrada quase 100% da população brasileira. Em 2004, ele escreveu um dos piores romances de todos os tempos; mas pouco importa se é ruim, o que interessa é que ele sempre será premiado pelas porcarias que faz. No Brasil, não interessa a qualidade, o que importa é que foi feito por ele.

Como se não bastasse tanta bajulação que ele recebe por esses solos, José Saramago, um incansável herói da estultice, tratou de elogiar o livro do seu camarada Chico. Segundo Samarago, depois desse esplendoroso romance, o "Brasil começará a tomar rumos diferentes"... E eu bem tinha percebido que estávamos ganhando o jeitinho da Suíça.Se Saramago ao menos soubesse pontuar seus próprios livros, daria para levá-lo sério...

O fato, é que o Brasil tem o costume de fazer escolhas erradas. Um exemplo entre dois economistas brasileiros, talvez explique os motivos pelos quais de Chico Buarque seja um grande ídolo dessa nação. Vejamos:O Brasil teve dois economistas que se destacaram e ganharam fama. O Celso "Mijado" e Roberto Campos. O primeiro, criou as piores teorias econômicas já vistas: Defendia a regulamentação da economia; o aumento do estado e a expulsão dos capitais estrangeiros. Já o segundo, era seu antípoda. O que Campos defendia Furtado condenava. Campos era a favor da liberdade no seu sentido mais amplo. Defendia a desregulamentação da economia; a privatização; a inserção do Brasil no processo de globalização; o incentivo à entrada de capitais estrangeiros e etc.

Mordaz, agressivo, insistente na defesa de suas idéias, Campos foi perseguido durante metade de sua vida por uma multidão de inimigos que o chamava ironicamente de "Bob Fields".

Por outro lado, o Celso Furtado, o rei das teorias infundadas, morreu idolatrado e quase inquestionável nessa republiqueta. Como se não bastasse, hoje, as suas teorias são estudadas em todos os cursos de economia pelo Brasil afora -- enquanto nos outros países se estudam Mises e Hayek.

Esse exemplo escancara toda anomalia na hora de fazer escolhas; toda incapacidade de aprender com os erros e toda burrice que acomete os brasileiros...Como não sou um “brasileiro que não desiste nunca”, termino com alguns questionamentos que não saem da minha memória - Chico, se algum dia você ler esse texto, o que é pouco provável, me responda: Por qual motivo você condenou a ditadura brasileira, exilou-se, e, hoje, apóia uma ditadura que já matou quase 20 vezes mais da qual fugiu? Por que, Chico? Por quê? Os cubanos te imploram: Afaste deles esse... “Cálice”.

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