Wednesday, December 27, 2006

Lênin e o nosso Lênin

Olavo de Carvalho ( Jornal do Brasil, 21 de dezembro de 2006)

Convidado a definir sua posição ideológica, o sr. presidente já deu três respostas: (1) É de esquerda. (2) Nunca foi de esquerda. (3) Foi de esquerda mas já não é mais.

As três juntas exemplificam didaticamente algo que há anos venho tentando em vão explicar à Zé-Lite. Quando lhes digo que Lula é comunista, que Marco Aurélio Garcia é comunista, ou até que Hugo Chávez é comunista, essas cândidas criaturas me respondem: “Mas será mesmo que eles ainda acreditam nisso?” O pressuposto da pergunta é que a filiação ideológica é uma crença subjetiva, mais ou menos de tipo religioso, que para funcionar tem de ser sincera.

Ora, as idéias, as crenças íntimas, só são determinantes do comportamento no caso dos homens intelectualmente diferenciados, capazes de dirigir seus atos desde o centro da sua consciência. Indivíduos mentalmente passivos, fragmentários, não agem desde si próprios, mas desde a estimulação ambiente, desde as pressões e seduções que recebem do seu grupo de referência. Um velho ditado francês ensina: “Quer mudar as opiniões do homem medíocre? Mude-o de lugar.”

Daí esta precaução de método: para saber a filiação ideológica de qualquer político brasileiro, não pergunte em que ele crê, mas com quem ele anda, a quais pressões e injunções ele é sensível, em quais esquemas de ação coletiva está metido.

Os grupos de referência de Lula são dois: a esquerda continental e a alta burguesia com a qual ele passou a conviver depois de eleito presidente. Seus compromissos com o primeiro são antigos, públicos e notórios. Com o segundo, são recentes e discretos: qualquer demonstração de afeto mais ostensiva, e lá vem paulada da esquerda inteira.

A diferença essencial é que, desses dois grupos, só o primeiro tem um projeto estratégico abrangente. A burguesia -- mesmo a internacional – contenta-se com afagos a seus interesses financeiros imediatos, apostando, por puro wishful thinking , que a economia acabará ditando os rumos da política. A posição geográfica de Lula na intersecção desses dois grupos define a sua orientação ideológica: satisfazer as exigências econômicas imediatas da burguesia ao mesmo tempo que vai fortalecendo o esquema estratégico esquerdista de longo prazo. Mantém o capitalismo funcionando para alimentar com ele a máquina do poder esquerdista que acabará por dominar o espaço político inteiro. Todo mundo sai contente, sem pensar no amanhã sinistro que está sendo gerado com isso.

Os burgueses querem apenas dinheiro, os revolucionários querem o poder absoluto, a posse integral dos meios de matar. A história provou que é possível satisfazer a ambos. Mas o primeiro a descobrir isso e a usá-lo como arma estratégica foi Lênin. Ele sabia que no fim das contas, o dinheiro é nada, o poder de matar é tudo. Por isso conseguiu implantar a ditadura comunista na Rússia ao mesmo tempo que persuadia os investidores estrangeiros de que não era comunista de maneira alguma. Lula não é Lênin: apenas repete por automatismo, em resposta às pressões do meio, o jogo de ambigüidades que Lênin inventou. Quando Marx disse que a história se repete como farsa, não sabia que estava falando da história do socialismo.

Friday, December 15, 2006

O jeitinho brasileiro

É verdade, não tenho tido tempo para escrever nesse blog. É verdade também que não escrevo post algum em que eu gaste menos de 1 hora para organizar as idéias. Mas hoje deu tempo e mais uma vez estou aqui para falar aos ouvidos da parte pensante que me lê - e também aos imbecis, uma outra parte que também me lê, mas certamente não me compreende. Não pretendo aqui tornar ninguém inteligente ou pensante, isso - repito - não é possível.

Dei de cara hoje com a manchete dos jornais onde se destacava o aumento de 100% dados aos parlamentares pelos próprios parlamentares. Renan Calheiros e Aldo Rebello, como seus antecessores, utilizaram da maneira mais antiga e mais fácil de se reelegerem: comprar os parlamentares. Não me escandalizo mais com isso, não sei se é porque já tenho formatado em minha alma que não pertenço a este covil de jecas chamados brasileiros ou se é porque sei que pertenço a isso aqui e nada mais me surpreende: O brasileiro é essencialmente mau- caráter. Somos um país pobre em todos os sentidos, principalmente no que diz respeito a princípios de cidadania, honestidade e civismo. Somos pobres, mas extremamente arrogantes. Por isso não suporto ouvir reclamações de brasileirinhos incomodados em ter que passar "horas sendo humilhados na embaixada americana para conseguir visto". Acho que deveriam não só dificultar, mas proibir definitivamente a ida de brasileiros para os EUA, salvando raríssimas exceções. Tem emprego aqui, diria o a embaixada? Não? Então not authorized! Nosso povinho não merece viver numa nação de primeiro mundo. O brasileiro é terceiro mundista e assim será até o final dos tempos. Elegeu a porra do Lula e merece inclusive o castigo de aguentá-lo por mais 4 anos. Brasileiro nos EUA só faz é M!. E graças a essa arrogância doentia dos nossos brasileirinhos é que somos considerados um tumor na sociedade civilizada de um primeiro mundo. Afinal de contas, somos os melhores no futebol, nossa música é a melhor, nossas praias são as mais belas, nossas mulheres as mais gostosas, nosso caralho a quatro é o melhor. Não existe lugar como isso aqui, os gringos são uns merdas, não é verdade?

Como diz a Sarah, somos um povo imbecil que vive em um país decadente que não faz a menor diferença no mundo. Não faz, nem fez. Só sabemos chorar o quanto o mundo nos maltrata e quanto nossas bananas são mais doces. Isso é uma doença, e eu sei que é incurável.

Como pensa todo brasileiro-médio, a culpa de tudo errado aqui dentro é dos ianques - entenda-se americanos. Se não temos uma porra de um salário mínimo descente, é culpa dos americanos. Se a amazônia está acabando, é culpa dos americanos. Se a economia do Brasil vai péssimamente mal, é culpa dos americanos, pois prejudicam nossa economia pré-histórica e defasada.

Ora, ora, sempre os americanos! E é para lá que muitos de nosso povinho querem ir; submetendo-se a horas na embaixada para depois lavar privadas ou pratos numa cidadela qualquer. Pobre povo imbecil e arrogante. Provou-se essa nossa arrogância muito bem no acidente aéreo do Legacy onde os "grandes pilotos assassinos mataram nossos 154 brasileirinhos!". Que malvados! Fizeram de propósito!! Hoje, depois que o apedeuta foi reeleito, apareceu a verdadeira causa do acidente aéreo, e como todos podem ver, a culpa é só nossa, graças ao caos em que vive a nossa aviação.

Estou com a porra do saco cheio disso tudo, deste país, desta gentinha, deste analfabeto de terno aparecendo na TV, de acarajá, de caipirinha, de feijoada, de Caetano Veloso, de pau-brasil, de Campanha pela Fome, de seleção brasileira, dessa CARA TÃO TOSCA DE BRASIL.

E mais uma vez, parafraseando minha amiga Sarah, "Brasileiros: Eles merecem ficar comendo banana e rebolando pro resto da eternidade. E esperar no aeroporto. QUEM ELEGEU A PORRA DO LULA MERECE FICAR ESPERANDO NO AEROPORTO 4 HORAS POR UM VÔO DE 40 MINUTOS."