Monday, March 02, 2009

Universidade...para quê?

Volto a escrever pelo completo exercício da burrice, já disse isso antes. Pois esse blog jamais vai tornar alguém inteligente: a burrice é a epidemia desta nação. E como o assunto é a burrice, gostaria de comentar a reportagem da Veja desta semana sobre o projeto de lei que tramita no senado federal e será votado nas próximas semanas - aliás, eu não deveria levar a sério nada que circule num covil que tem José Sarney como presidente, mas a força do hábito não me deixa calar - que passará, se for aprovado, a implantar o sistema de cotas raciais nas 55 universidades federais brasileiras. E o que isso significa? Significa, caro leitor, que todas estas instituições destinadas a formar profissionais competentes serão obrigadas a destinar 50% de suas vagas à alunos da escola pública, esta então instituição totalmente falida. Na prática, significa que negros, pardos e índios serão os principais beneficiados, pois terão garantido um número de vagas proporcional às suas representações demográficas por estado.Até aí tudo bem, já que é justamente esta parcela que carece de mais oportunidades, certo? Mas da maneira que está sendo colocada a coisa, é simplesmente ilógico, contraproducente e prejudicial justamente à estes a quem se quer beneficiar. Eu explico porque:

Primeiro porque o papel das Universidades Federais não é reparar injustiças históricas, como querem alguns, mas sim produzir CONHECIMENTO, o que só é possível com rígida seleção de candidatos com base no mérito individual, e não com base num conceito totalmente desacreditado e vago como o racial. Se assim for, o mérito individual não servirá absolutamente para nada, e o conhecimento com qualidade jamais será produzido.

Segundo, porque já está provado que o regime de cotas que vigora no Brasil desde 2002 não teve nenhum resultado positivo. Quem duvida, acesse o planejamento das 80 universidades onde vigora o regime.

Terceiro, porque, ao contrário do que dizem os defensores do regime de cotas, a tal dívida histórica para com os negros - isso também é uma questão de ponto de vista - não é corrigida por tal regime, uma vez que os beneficiados são um grupo de indivíduos definidos imprecisamente pelo conceito de raça, que vem inclusive sendo questionado científicamente.

Quarto, porque os negros não precisam de empurrão, como defendem alguns. Acreditar nisso é assinar embaixo de uma atitude e um pensamento altamente racistas. No Brasil existe racismo? Claro. Mas não existem barreiras legais contra os negros desde 1888 com a abolição da escravatura. Isso é fato. Aqui não há racismo-institucional.

Quinto, porque aumentar o número de diplomas em mãos de negros não vai diminuir a discriminação de forma alguma, pelo menos não por este regime de cotas.

Sexto, porque a diversidade não contribui de maneira exata para a melhoria do ensino superior, uma vez que o próprio conceito de diversidade racial é totalmente limitado.

Enquanto projetos de lei tão demagógicos como este circulam no Congresso Nacional e no Senado, o problema da deseducação brasileira persiste. O regime de cotas é mais um dos subterfúgios do des-governo brasileiro para não olhar para os principais problemas que afligem a educação. E estamos falando principalmente do ensino básico, o maior dos maiores alvos de descaso no Brasil. Para termos uma idéia apenas 20% dos alunos mais pobres concluem o ensino médio. Pior: entre os que chegam a se formar uma minoria tem condições reais de cursar uma faculdade, ainda que ela seja gratuita. Metade dos alunos conclue o ensino básico sem saber executar as operações mais elementares da matemática e sem entender o conteúdo de textos banais. É de vespeiros como este que o projeto de criação de cotas tenta desviar a atenção.


Tomemos cuidado, pois se isto se tornar realidade, casos como o do aluno gaúcho Getúlio Ost, que teve ótimo desempenho no vestibular da UFGRS e que perdeu a vaga para um cotista, haverá de se repetir em número muito maior. Talvez com um de nossos filhos, ou com o filho de alguém, cujos pais - nós - investem grande soma de dinheiro para que tenham uma educação decente e possam galgar um degrau a mais na pirâmide social brasileira, e que mesmo assim podem ver seus filhos perderem sua vaga para outro menos preparado apenas por terem nascido brancos.

Como explicar um aluno classificado no 65 lugar no vestibular mais concorrido do país perder sua vaga para outro candidato que ficou em milésimo lugar? Você acha justo?

Numa nação onde o bolsa-família e o cheque-cidadão são as tônicas da reeleição de um presidente que mal terminou o ensino médio, talvez isso não soe tão estranho. Provavelmente, se não tivesse sido eleito pelo voto, o nosso effelentíffimo presidente teria chegado ao planalto pelo regime de cotas para analfabetos e para incompetentes.

PS: A UERJ, que começou com o regime de cotas para negros, hoje conta com vagas para índios, deficientes e filhos de bombeiros mortos. (!) A federal de São Carlos já tem até para refugiados políticos.

Você duvida?

4 comments:

Anonymous said...

Pagando a conta
Primeiro quero agradecer a tua solidariedade e parabenizar a repórter da VEJA, Camila Pereira, pela matéria Uma segunda opinião mostrando que ao tentar reparar uma dívida histórica com os negros, "o sistema de cotas" comete novas injustiças punindo o esforço de cada um e distribuindo “bolsa cota” como uma solução "eleitoralmente" correta.
Sou mãe do vestibulando que mesmo conquistando boa nota perdeu sua vaga para os cotistas conforme mostrou a matéria da Veja. Ressalto, a média por ele obtida foi muito superior A TODOS os cotistas auto-declarados negros. E o mais grave, o sistema oferece mais vagas que a demanda, pois sobraram 70% das vagas nas cotas raciais que acabaram sendo preenchidas pelos oriundos da escola pública. Os inscritos no acesso universal (que ironia, de acesso universal não tem nada!) foram preteridos duplamente. Mais uma vez foram injustiçados.
Estou sendo penalizada por ter tirado meu filho da escola pública devido as constantes greves dos professores (culpa do Estado!)que acabavam prejudicando a educação do meu filho. E, ao leva-lo para o ensino privado, priorizando sua educação, fui obrigada a abrir mão de muitas coisas. Em 2008, entrei na Justiça para que sua vaga fosse garantida na UFRGS. Neste ano ele prestou vestibular novamente, melhorou muito seu desempenho, mas assim mesmo perdeu a vaga. Não posso mais esperar, ele está estudando PUC- e para bancar sua formação, encaminhei minha aposentadoria proporcional para que possa pagar a mensalidade. Se esperasse mais um ano e meio, o valor seria integral. Fica o meu desabafo e tenho certeza que muitos compartilham da minha posição. Obrigada
Por ultimo,faço um apelo aos senadores, se não for possível acabar com o sistema de cotas pelo menos não ampliem, não permitam que a discriminação seja ainda maior.

Xavier said...

Renira,
seu desabafo é muito justo. Estou contigo. Regime de cotas neste país é tão absurdo quanto o descaso com a educação básica. Uma coisa é consequencia da outra, conforme meu resumo sobre a brilhante reportagem da Veja. Importa ganhar voto. Importa ganhar eleição. Não importa investir na educação como premissa básica para termos cidadãos melhores. E é assim que nossa nação de bananas vai sobrevivendo. De cheque-cidadão em cheque-cidadão, de cotas em cotas, de corrupção em corrupção.É dessa forma que nossos governantes recompensam aqueles que estudam, como seu filho e de os de tantos pais. Enquanto houver demagogia e este assitencialismo ridículo, fatos como estes se perpetuarão.

Anonymous said...

Eu concordo com a opinião de vocês, e quero parebenizar Dna. Renira pela coragem e a paciência para brigar por justiça neste país onde um político safado fica 5 anos aguardando julgamento EM LIBERDADE e depois ainda é absolvido apesar de todas as provas contra ele, enquanto um ladrão-de-galinhas fica 15 anos levando porrada na cadeia...

Não aconpanhei o caso mas acredito que por ter repercursão da mídia, o caso da Dna. Renira e seu filho está tramitando mais rápido.

Mas quero dizer que sou a favor do regime de cotas, mas não de cota racial ou de escola pública porque realmente é uma canalhice, mas um regime de cota baseado no poder aquisitivo do aluno e sua família. Pois sabemos que "todos" que entram nas faculdades federais são "ricos" enquanto os "pobres" ficam se matando para pagar uma faculdade particular.

Bom, sei que a resposta óbvia para isso é: "nós entramos por merecimento, não por sermos ricos".

Eu então pergunto: Será que TODOS estes que foram aprovados conseguiriam se não tivessem feito um cursinho preparatorio? (que normalmente é MUITO caro)e também pergunto porque TODOS estes aprovados não concluem o ensino superior?

Quero deixar claro que não discordo de vocês, e que torço para que o filho da Dna Renira consiga o que lhe é de direito.

Mas não posso deixar de ficar frustado ao me ver sem concluir o ensino superior por não ter condições FINANCEIRAS, (fiquei em 532º lugar na Federal, mas tinham 450 vagas naquele ano) enquanto os pátios das faculdades federais lotadas de carros importados...

Xavier said...

Caro leitor,
apesar de você concordar com a nossa opinião, vou ter que discordar da sua, pelo menos no que diz respeito a "cota por poder aquisitivo". Me corrija se eu tiver entendido errado, mas nesse raciocínio, as pessoas que não têm grana para bancar um cursinho peparatório teriam passe livre para a federal? Como se classificaria a condição financeira de alguém? Muitos pagam escolas particulares com toda facilidade, já outros com um enorme suor. Como se poderia beneficiar alguns e outros não? Não entro na questão de "ricos" e "pobres", pois neste país o raciocínio - errado por sinal - é que os ricos estão tirando dos pobres, quando na verdade não é nada disso. Continua valendo o regime de méritos. Eu, por exemplo, estudei em casa e cursei duas federais, não fiz cursinho algum. Vai muito da vontade de cada um, entretanto - aí concordaria com você - o ensino público vai de mal a pior, que dirá o ensino básico. Poder aquisitivo não é critério algum. Há muita gente que fez cursinho preparatório e foi eliminado de cara para as federais. O que é necessário, e aí a gente volta ao início, é investimentos no ensino público, nos professores, para que o aluno da rede pública tenha condições de competir com o aluno da rede privada. O Colégio Pedro II no Rio de Janeiro é um exemplo disso: público e excelente. Se todos fossem como ele, seria muito diferente.