Friday, August 29, 2008

Algemas para quem precisa

A mais nova decisão - e uma das mais bizarras - que o Supremo Tribunal Federal teve a cara-de-pau de promulgar é a tal da Restrição ao Uso de Algemas. Segundo a instituição, os criminosos só poderão ter as mãos algemadas em casos excepcionais, quando representarem uma ameaça concreta à segurança alheia. Isso inclue as ações policiais, o transporte de presos e julgamentos.

Parece que todo esse debate veio à tona quando um pedreiro de Laranjal, interior de São Paulo, condenado por homicídio triplamente qualificado, foi julgado de algemas, fato que, segundo o pobrezinho do pedreiro, o expôs ao constrangimento e influenciou negativamente o júri popular local. Ou seja, se não tivesse sido julgado de algemas, ele acredita que teria sido inocentado, já que era o júri de uma pacata cidade de interior. Não só ele pensa assim, veja só: Um ministro do STF resolveu fazer uma defesa incisiva do inocente pedreiro, alegando que o uso das algemas tem efeito sobre a opinião de quem está julgando o réu em questão. Por incrível que pareça, a aceitação do argumento do tal ministro foi unânime na Corte, inclusive tendo o pedido de anulação do julgamento do pobrezinho do pedreiro - um assassino frio e cruel - por ninguém menos do que o Procurador-Geral da República, que diga-se de pssagem, também criticou severamente as algemas do banqueiro Daniel Dantas, Paulo Maluf e o do ex-senador Jader Barbalho.(!)

Está certo então. Realmente bandidos como Daniel Dantas, Paulo Maluf, Nadji Nahas, Jader Barbalho, Salvatore Cacciola, Sérgio Naya e tantos milhões de outros, não representam de forma alguma uma ameaça a segurança. Claro. Todos eles possuem cara de pessoas de bem, mansas, esbajam simpatia e bom mocismo com gestos e trejeitos típicos de quem teve ótima educação. A aparência de calma e tranquilidade se deve principalmente à enorme quantia de dinheiro ilícito que todos eles mantém em suas diversas aplicações e negócios exclusos que quintuplicam a cada minuto que passa. Graças também às centenas de viagens pelas mais sofisticadas cidades do mundo financiadas com dinheiro alheio. Sim, pois quem saboreia os melhores vinhos - e mais caros - e as melhores comidas do mundo; degusta os melhores charutos e dirige os melhores e mais modernos carros que existem, tem sim, de ter uma cara boa, não é verdade? Quem é que representaria uma ameaça tendo uma vida tão pacata assim? De fato, a opinião pública não pode se deixar levar por uma imagem negativa que uma algema traria a um escróque desses. Sujaria a sua bela imagem.

A julgar pela aparência, quem é que julgaria mal uma empresária - como tantos outros - tão bem sucedida como a então presidente de uma empresa que trabalhei há alguns anos atrás? Comedida, sempre vestindo grifes famosas, tinha uma fisionomia tranquila e feliz, principalmente após as viagens à Roma, New York e Paris que fazia todo mês, graças provavelmente ao grande "lucro" obtido através das contratações ilícitas e mais outras mil maracutaias que praticava - e pratica - diariamente em sua empresa. A cada mês ela e seus sócios roubam literalmente uma grande quantia de dinheiro de cada "funcionário" seu, enquanto posam para revistas como "grandes empresários", com as caras mais lavadas do mundo. Se beneficiar de dinheiro alheio é roubo, e então, como os figurões acima, ela e seus sócios, só precisam de uma coisa: algemas.

Mas com a nova visão do STF, o uso das algemas só encontrará sentido no criminoso pobre que, esfomeado, sujo e maltrapilho, rouba um tablete de manteiga no supermercado. Nele as algemas comporiam um belo quadro e em nada estariam interferindo no bom juízo da opinião pública, já que gente desesperada para comer ou alimentar um filho já é por si só uma imagem muito desagradável para a torpe classe média brasileira. E um perigoso criminoso como esse representaria sim, uma grande ameaça a segurança!

De todo o bolo da canalhice nacional, o Poder Judiciário é para mim a fatia mais podre, abominável, vergonhosa e a mais corrompida de todas. Pior: sendo intocável, se vê acima do bem e do mal, quase perto de Deus. Que 99% dos magistrados brasileiros são diferentes apenas no preço da propina, isso já é sabido. Mas até 2007 nunca se havia tido notícia de um alto ministro do poder judiciário que estivesse envolvido com corrupção. Foi quando a Operação Furacão da Polícia Federal fisgou o então ministro Paulo Medina (e mais não sei quantos juízes), do Superior Tribunal de Justiça. Medina foi flagrado através de um grampo telefônico que provou seu envolvimento com a máfia do caça-níqueis. Preste atenção para ver se você se espanta: Um ministro do STJ envolvido com quadrilha de máquinas caça-níquel.

Até hoje o ex-ministro, apesar de todas as evidências e provas, não foi preso. E nunca será no Brasil. Mas uma coisa você pode ter certeza: se um dia ele for de fato preso, jamais usará algemas, pois a opinião pública poderá julgá-lo mal e de repente acreditar que ele realmente é um criminoso.

Algemas para quem precisa de algemas.

2 comments:

Anonymous said...

Boa "Big head" !!!!
Se opiniões como as suas saíssem em artigos de jornal a discussão já teria chegado as ruas, e esses intocáveis já teriam, ao menos, suas armaduras arranhadas.
Ainda tenho esperança no dia da "grande assepsia nacional". O brasil precisa ficar livre dessas tralhas!!

Anonymous said...

estão perto de deus? Por isso são tão ruins. Se vc reparar, deus é uma espécie de poder judiciário do velho testamento.