Friday, December 07, 2007

Os criativos Anos 80 - Parte I

Deixando de falar um pouco sobre política e sobre o nosso effelentíffimo presidente - acreditem, ele não merece tanta atenção de nossa parte - vou falar um pouco de música. De agora em diante, de quando em quando, vou postar dicas sobre CDs e bandas da década de 80 que sejam dignos de nota.

Pois bem. Há bandas que acabam no momento certo (como os Smiths), outras que já perderam totalmente o tempo e a mensagem original (Stones e Who). Mas há também grupos que foram dissipados quando ainda podiam oferecer mais. E é nessa categoria que estão os Housemartins (Sim, aquela banda que cantava o melô do papel, lembra?). Em 1989 comprei o último LP da banda e cansei de ouví-lo, muito pouca gente conhecia. Hoje vou falar sobre a banda:

Formada originalmente em 1984, pelo guitarrista e vocalista Paul Heaton, pelo guitarrista Stan Collimore, além de Ted Key (baixo) e Hugh Whitaker (bateria), se autodenominaram ironicamente como a "quarta melhor banda de Hull", uma pequena cidade interiorana da Inglaterra. Apesar da brincadeira e modéstia, foram verdadeiros mestres em compor grandes canções. No ano seguinte entraria Norman Cook no lugar de Ted. Pausa para mais um ano de trabalho duro. Assinam com a independente Go! Discs (a mesma gravadora de Billy Bragg) e meses depois conseguem um sucesso nas paradas com o terceiro single, "Happy Hour". Intitulada originalmente "French England", a canção chegou a ser número 3 na parada britânica, fazendo com que o disco de estréia, London 0 Hull 4 alcançasse a mesma posição.

Começava a comparação com o grupo de Morrissey & Marr (The Smiths), com quem chegaram a excursionar, como banda de abertura. Embora houvesse semelhanças nos vocais e até nas guitarras acústicas, a proposta do Housemartins era muito mais acessível, tendo como característica notável, os arranjos à capela, ou seja, harmonizações vocais, sem instrumentos. Um dos grandes momentos do primeiro disco é uma versão arrepiante do clássico de Curtis Mayfield, "People Get Ready" (incluindo apenas na versão CD). E foi exatamente uma versão neste estilo que deu o primeiro e único número 1 nas paradas: "Caravan of Love", dos compositores Isley/Jasper/Isley. Apesar de não ter escrito nenhum grande sucesso do grupo (a dupla de compositores mais consistente era Cullimore e Heaton), Norman Cook era o grande arranjador, tocando piano e chamando alguns músicos extras para as sessões de gravações. O disco vendeu a respeitável marca de 500 mil cópias na Inglaterra e o mesmo número no resto do mundo.

Com tanto sucesso foram eleitos em 1987 a melhor banda jovem do país. Apesar disso, Hugh deixa a bateria para Dave Hemmingway. Influenciados por Billy Bragg, abraçaram a causa do grupo trabalhista "Red Wedge" e promovem alguns concertos no intuito de angariar fundos para o partido. Outro artista que ficaria famoso pela sua adesão ao movimento era Paul Weller, já com seu Style Council. Voltam a se reunir em estúdios e produzem mais um trabalho, o single "Five Get Over Excited", novamente um sucesso de público e crítica.

Mas os problemas já existiam. Paul havia feito "Me and the farmer" inspirado nas lutas das classes operárias. Para o segundo disco, ele preferia dar mais ênfase aos arranjos vocais, enquanto Norman queria trabalhar um pouco mais a parte experimental, testando loops e seqüenciadores nos arranjos e Stan desejava colocar mais camadas de guitarras. Paul começou a tomar atitudes dignas de um ditador, chegando ao cúmulo de editar sílabas de diferentes takes para compor uma canção, digitalmente. Simplesmente ignorava as idéias de seus companheiros, sendo o ápice da discórdia durante as gravações do vídeo para "Build" (a melô do papel, como ficou conhecida aqui no Brasil). A única opção comum era que a banda estava se esgotando. Ironicamente escreveram na parede do estúdio "Housemartins R. I. P." (Housemartins, descansem em paz).

Para irritar ainda mais os outros integrantes, Paul disse em uma carta ao semanário New Musical Express, que "em uma época liderada por Rick Astley, Shakin' Stevens e Pet Shop Boys, eles (Housemartins) não eram bons os suficientes.”

Após isso, o fim era a única saída. Os músicos se separaram, sendo Norman Cook o que obteve maior sucesso, principalmente com o Fatboy Slim. Como despedida, editaram uma coletânea de compactos, Now That's What I Call Quite Good.

Particularmente, acho que o melhor disco da banda é o "People Who Grinned Thenselves to Death", na verdade o último, de 1988. Um disco cheio de melodias dançantes, criativas e bem arranjadas. Fiquem com o vídeo de "Build" e "Happy Hour":